Vida e Obra

VIDA E OBRA DE LUCIO CARDIM FILHO

Nascimento: 07/06/1932         Morte: 03/06/1982

Depoimentos: Jamelão: 

Os maiores compositores que conheci, que me encheram de alegrias foram Lupicínio Rodrigues e Lucio Cardim.

Antônio Carlos Cardim (bisavô paterno do cantor Lucio Cardim Filho), era seminarista da Igreja Católica em Portugal, foi enviado ao Brasil em missão religiosa, foi designado para a cidade de São Sebastião, ao lado da cidade de Santos. O religioso falava 9 idiomas, e a vida lhe apresentou uma surpresa, conheceu uma caiçara, se apaixonou, abandonou a carreira religiosa e se casou. Isso resultou em seu pai português deserda-lo da família portuguesa.Foi trabalhar como funcionário público no porto de Santos, muitos anos depois seu filho Lucio Cardim segue seus passos e entra também na carreira pública. 

Lucio Cardim e Cipriana Olga Braga Cardim tiveram 4 filhos:

Diorama Cardim          12/09/1923

Ilsa Cardim                  27/04/1926

Ady Cardim                 26/11/1928

Lucinho Cardim Filho  07/06/1932

Chislon Cardim             19/07/1936, este fruto do segundo casamento de Lucio Cardim com Emília Alves Janeiro e teve mais um filho.

 

1932

Lucio Cardim e Cipriana Olga, resolvem não ter mais filhos, pois já tinham 3 (Diorama, Ilsa e Ady). Com esta decisão se dirigiram a médicos da época e agendaram uma operação cirúrgica para Olga não ter mais filhos, cirurgia esta conhecida como laqueadura (amarração das trompas).Tres anos se passaram e parece que o universo desejava que nascesse o franzino Lucinho que teria uma passagem breve na terra somente deixando palavras de amor aos seus semelhantes. (morreu aos 49 anos)

A gravidez ocorreu nas trompas, nada comum, trazendo complicações perigosas para a mamãe Olga.Nasce na Santa Casa ântica na cidade de Santos no Estado de São Paulo em 7 de junho de 1932 o menino que recebe o mesmo nome do pai, é registrado em cartório ´´Lucio Cardim Filho´´.

  1935

Lucio Cardim e Olga, viviam um momento muito difícil financeiramente.

O casal e mais 4 filhos viviam escassez de alimento e conforto. Os desentendimentos chegam e decidem em uma separação conjugal indo direto para o divórcio.

Neste mesmo ano Lucio Cardim conhece Emília Alves Janeiro.

  1936

O velho Lucio Cardim, aluga uma casa vai morar com Emília e fica com a tutela dos 3 filhos mais velhos: Diorama, Ilsa e Ady.  Lucinho o caçula, vai para a casa de uma prima paterna na cidade de São Sebastião-SP.

 

Lucio Cardim, era funcionário da Secretaria Estadual da Saúde, atuando especificamente na vigilância sanitária, vistoriando os navios internacionais que chegavam ao Porto de Santos, autorizando-os ou não a atracar.

Lucio e Emilia juntos com os 3 filhos dele e a gravides em curso para a chegada de Chislon que nasceria em julho do mesmo ano.

Tempos difíceis que serão acentuados com a chegada no bebe. Algum tempo depois ocorre a separação também.

Lucio leva os seus três filhos e Emilia fica com o garoto Chislon Cardim.

   1937

Olga, morava em uma pensão de uma amiga, e para não pagar a hospedagem, era encarregada da limpeza da pousada, lavando e passando as roupas de cama.

 Olga recebe a noticia que Lucinho estava com uma doença conhecida na época como mal de *Simioto, pega o barco e sai correndo em viagem até São Sebastião para trazer o pequenino de volta. 

Encontra Lucinho, desnutrido e muito doente. Com muita dificuldade em se alimentar.

Durante a viagem de barco, a mãe amassava bananas nas mãos e colocava diretamente na boca se seu filho caçula.

Olga assume a maternidade levando o pequeno para a pousada, recuperando sua saúde. 

*Mal de Simioto (de simio = macaco) Mal do macaco é o nome popular, em algumas regiões do Brasil (MT, MS, GO, SP) da desnutrição causada em crianças pequenas por alergia ao leite de vaca ou a incapacidade de digerir o mesmo. No início do ano, Celestino Neves da Silva, funcionário da Companhia Nacional de Navegação Costeira, chega a Santos a pedido da empresa em que trabalhava.Procurou um lugar para se hospedar e encontrou a pousada onde Cipriana Olga estava com seu caçula, agora já curado. Celestino, se apaixona pelos 35 anos de beleza e delicadeza de Olga e para o amor ficar mais intenso, Celestino se encanta pelo menino franzino (Lucinho), pois ele havia deixado duas filhas no Rio de Janeiro de seu primeiro casamento e assume a paternidade de um filho de fato. 

Ambos divorciados, iniciam um namoro. Viveram juntos sem oficializar o enlace. Somente após Olga de fato ficar viúva do seu primeiro marido (Lucio), se rendeu a 22 longos anos de insistência do Português para que oficializasse o relacionamento.Casaram se em 12 de dezembro de 1959. Foram morar na Rua Manoel Elias Ruiz,12.  Estavam presentes os filhos de Olga e seus respectivos cônjuges: Diorama e Tito, Ilsa e Jerson, Lucinho e Celina e Ady e Lina.

 

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 1942

Lucinho, como era chamado, desde muito pequeno se mostrava ser um bom ouvinte musical, aprendendo a gostar de boleros e guarânias ouvidas no radio de ondas curtas que a família tinha na sala.Aos 9 anos encantados com a música pede para Celestino comprar uma gaita de boca pra ele aprender a tocar. Rapidamente o pedido do adorado filho postiço foi atendido.

A gaita de boca era um instrumento pouco comum para meninos de 10 anos, mas Lucinho ja tocava com maestria em praças, circos e parque de diversões, neste momento pegando mais o gosto pela música, pois muitos já lhe davam trocados em dinheiro para ouvir a gaita tocada pelo menino prodígio. 

Teve algumas participações em programas de calouros na Rádio Atlântica e Rádio Clube de Santos. Um dos programas que participou varias vezes foi ´´Dindinha Sinha´´.

Foi até o sétimo ano (ginásio) no colégio Tarquínio Silva, escola particular famosa da época.  Celestino Neves da Silva, seu avo postiço lhe dava esta condição, diferente dos seus irmãos mais velhos que não tiveram essa mordomia.

Celestino agora casado com Cipriana Olga, adora Lucinho, pois somente teve duas filhas do seu primeiro casamento, passando a ter um carinho especial por menino. 

Tradicionais colégios, que muito santista recorda com saudade, independentemente de serem públicos ou particulares, marcados por professores que se destacaram na Cidade, e por eventos que também fizeram história. No Almanaque de Santos 1971 (de Olao Rodrigues, editado por Ariel Editora e Publicidade, Santos/SP, 1971), foi relatado:

Colégio construção

Fachada do colégio, na Av. Rangel Pestana, cerca de 1950
Imagem: folheto de divulgação da escola, acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP

 1944

Lucinho aos 12 anos, deslumbrado com a possibilidade de ser famoso, se junta com amigos pra montar duplas e trios, seu desejo e pré destino era de fato ser artista.

 

 1946

Lucinho aos 14 anos, foge de casa com sua gaita para tentar a vida como artista. Fica na casa dos amiguinhos hospedado por alguns dias, deixando Cipriana e Celestino desesperados sem saber de seu paradeiro. Por fim, após o juizado de menores ser acionado, eis que o garoto fujão aparece com cara de pastel, pedindo desculpas.

Volta para casa mais convicto ainda que sua escolha profissional estava definida. Mal sabia que não teria apoio de Celestino na sua escolha.

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1950 – Amor a primeira vista – 1º Casamento (Lucio X Iracy) 

Em 1950, na esquina das Ruas Carvalho de Mendonça e Bernardino de Campos, na cidade de Santos, estado de São Paulo, estava em atividade um pequeno parque de diversões.Dentre brinquedos, roda gigante, barraca de tiro ao alvo e barracas de alimentação, era bastante comum, existirem concursos de canto.Em um dos finais semana, foi marcado um concurso de canto, haviam vários concorrentes, dentre eles dois jovens que se apaixonariam ao se conhecerem. 

De um lado Lucinho com 18 anos, já não estava estudando mais no Colégio Tarquínio Silva, e de outro Iracy Oliveira, que na plenitude da sua beleza com 18 anos de idade, disputaria naquela noite, o tal concurso de canto, acompanhada por uma pequena orquestra local.

Nenhum dos dois ganhou o concurso, mas o amor prevaleceu, começaram o namoro no mesmo dia. Passado algum tempo, Iracy disse a Lucio que ele deveria pedir consentimento do namoro, a sua mãe, a Sra. Maria de Oliveira, a qual morava na cidade vizinha de Cubatão. A aprovação foi imediata. No mesmo ano de 1950, houve um concurso de mis primavera no Clube Henedina, no bairro do Marapé, em Santos, e Iracy foi eleita princesa da primavera. 

Lucio Cardim era um funcionário público da Secretaria da Saúde dos Portos, o qual batizou seu filho caçula, com seu próprio nome, apenas diferenciando-o com a palavra ´´Filho´´. Ficando então Lucio Cardim Filho. 

O velho era muito companheiro e apaixonado pelo seu caçula, acompanhava-o em todos os bares e restaurantes que Lucinho se apresentava para cantar e tentar solidificar sua carreira de musico. O velho Lucio sempre constrangendo Lucinho com essa marcação cerrada, incluindo nos momentos de namoro com Iracy, hoje em dia a moçada diria que estaria pagando mico. 

O convívio o fez aprender a gostar daquela que seria sua futura nora. Um dos lugares que deixava o velho muito feliz, era ir com o casal de namorados na igreja dos Mórmons na Rua Paraíba. 

Iracy morava e trabalhava na casa de uma família na cidade de Santos, somente indo para Cubatão ver sua mãe, aos fins de semana. Vendo a vida sacrificada da futura nora, e o sacrifício do filho para namorar a jovem garota, o velho aposentado alugou um quarto para Iracy, na mesma pensão onde morava sozinho.

 

Lucinho morava com sua mãe e seu padrasto Celestino, e visitava com freqüência seu pai e agora também sua namorada na mesma pensão. Os namorados nunca ficavam sozinhos, a presença do pai de Lucinho era implacável. 

Importante lembrar que a carreira de musico de Lucinho, o forçava a trabalhar nas madrugadas em bares e restaurantes de Santos, tendo como consequência chegar em casa de madrugada e dormir até tarde no dia seguinte. Essa rotina foi se tronando um grande problema para Lucinho, pois o Celestino que foi a vida toda um trabalhador do dia, não aceitava essa rotina noturna do seu querido filho postiço. 

Inicia-se um processo de desentendimento com muitas brigas e discussões, sempre se ouvindo no final o Celestino chamando Lucinho de vagabundo.  

Neste momento Lucinho pergunta, o que tenho que fazer para não ser chamado de vagabundo, Celestino responde, arrume um emprego durante o dia, Lucinho retrucou, me arrume então um emprego que trabalharei.

Celestino como tinha sido funcionário muitos anos no porto de Santos, mexeu seus pauzinhos e colocou Lucinho para ser bagrinho na estiva. 

Essa atividade era controlada pelo sindicato, o qual definia quem e qual trabalhador poderia ganhar o dia descarregando sacos de navios que traziam produtos importados, normalmente trigo e milho. Esses trabalhadores quando registrados na Cia Docas eram chamados de estivadores e quando eram diaristas não registrados eram chamados de bagrinhos. 

Lucinho, agora sendo um bagrinho, ganha o respeito de Celestino, mas passou a ter jornada dupla quando trabalhava descarregando navios de dia e cantando em bares e restaurantes a noite. 

Lucinho pela sua idade é forçado por lei a se alistar nas forças armadas, é engajado imediatamente na aeronáutica. 

Iracy e Lucinho estavam no auge e no limite da paixão e do namoro, foi quando a jovem disse ao futuro sogro, converse com seu filho, pois desejo me casar virgem e de branco.

E assim foi feito. 

 1951 

 1º CASAMENTO (Lucio Cardim Filho X Iracy Oliveira)

O CASAMENTO

casamento
Lucio Cardim Jovem
Igreja

Casaram-se em 27/10/1951, na igreja de Santo Antonio do Embaré, na cidade de Santos-SP.

Estavam presentes a mãe de Iracy, A Sra. Maria de Oliveira e os pais de Lucinho, Cipriana Olga e o velho Lucio Cardim. Foram padrinhos por parte do noivo, sua Irmã Diorama e seu esposo Jose Fernandes e por parte da noiva Aristóteles Passosde Carvalho e sua esposa Iraci Passos de Carvalho, ambos eram também seus padrinhos de batismo. 

O casamento foi num sábado, pois na segunda feira Lucinho tinha trabalho na base aérea de Vicente de Carvalho, cidade vizinha de Santos, onde estava cumprindo seu período militar.

Jose de Abreu e Lavínia, tios maternos da noiva, disponibilizaram sua casa para a realização da festa do casamento.

Chamou muita atenção dos convidados, o fato dos noivos não beberem nada alcoólico.

No lugar de champanhe, o brinde foi feito com leite gelado.

VIDA DE CASADOS

Sem condições de alugarem uma casa, o casal foi dividir uma morada, com uma Irma da noiva e seu cunhado, Darcy Oliveira Crisostomo e Alaor da Silva Crisostomo.

A casa tinha 3 quartos. No quarto da frente ficaram os noivos, no segundo o velho Lucio Cardim, que havia deixado a pensão, e no terceiro quarto o casal Darcy e Alaor. Esse sistema coletivo de moradia era muito comum para a época. 

O casal ganhou alguns presentes, dentre eles um fogão de duas bocas, ainda a carvão, e um jogo de copa de ágata vermelha e mais alguns apetrechos de cozinha. A mesa da cozinha era formada por dois caixotes e uma tabua. Embora dividissem a casa, Iracy fazia questão de ter tudo separado. 

A jovem casada, cuidava da casa, da roupa e da comida de seu marido e de seu sogro, pois ambos ficavam o dia todo fora de casa. Lucinho na base aérea e o sogro no cáis do Porto. Esta rotina durou quase 3 anos, pois o convívio numa casa cheia estava ficando difícil para o velho funcionário da Cia Docas de Santos.

Diante deste fato, Lucio, Lucinho e Iracy foram morar com Diorama, a filha mais velha do velho Lucio Cardim.

Diorama e seu marido Jose Fernandes, simplesmente chamado de Tito, estavam passando por um período de dificuldades financeiras e a chegada dos novos moradores facilitou o rateio das despesas da casa.

 

 1952 

CASAL MORANDO COM A MÃE

 Dona Olga, mãe de Lucinho, estava bem casada com o Sr. Celestino Neves da Silva. Moravam na Rua Manoel Elias Ruiz,12 no bairro do Marapé, em Santos-SP. Olga sempre muito atenta, observou a convivência do casal Diorama e Tido mais o casal Lucinho e Iracy e com o velho Lucio Cardim de contrapeso na casa de diorama, sua filha mais velha, isso não estava dando certo. 

Celestino e Olga conversam e resolvem convidar Lucinho e Iracy para morarem com eles. Assim foi feito. 

Em 21/08/1952 nasce na Santa Casa de Santos, Antonio Lucio Cardim, o primeiro filho de Lucinho o qual se tornaria o preferido de seu avô postiço Celestino, que se apaixonou pelo menino. 

Neste momento, Celestino atuava como conferente de cargas da Companhia Costeira de Navegação. Era ele quem mantinha as despesas da casa, pois Lucinho continuava tentando ser cantor na noite santista, em troca de um mísero cachê, e na maioria das vezes sem cachê algum. 

Dois longos anos se passam, e em 29/08/1954 nasce na Santa Casa de Santos, Sandra Regina Cardim, se transformando na princesinha da família, roubando a sena de seu irmão Toninho. 

As discussões entre Celestino e Lucinho aumentaram, pois as despesas estavam pesadas para o conferente. Celestino tinha ciúmes do bebê porque todas as atenções estavam voltadas para Sandra, e não para o seu preferido garoto, Toninho. 

É chegado o batizado da princesinha Sandra. Norberto Pereira e esposa, continuam no meio artístico e se tornam grandes amigos de Lucinho. Passam a ser os padrinhos. Todos voltam ao Marapé para a comemoração. Celestino vem com seu xodó Toninho no colo enquanto Iracy carregava um delicioso bolo de laranja para festejar o batizado. Sandra segue no colo dos padrinhos. 

O jovenzinho no colo do seu protetor chora pedindo um pedaço do tal bolo e sua mãe diz que não, o bolo é para depois do batizado. Celestino não gosta da resposta, e a partir desta data acentua-se o conflito de convivência, guerra declarada.

Aumentaram as discussões sobre a maneira com que Lucinho e Iracy estavam educando as crianças. Os avós queriam criar de um jeito e os pais de outro. 

Tentando achar a solução para os conflitos de geração, Lucinho acabou alugando um apartamento numa rua próxima.

 

 1954

 CASAL MORANDO SOZINHO

Levaram para o apartamento somente o jogo de quarto, o restante foi sendo comprado aos poucos com bastante sacrifício. 

Com o salário de bagrinho da estiva e tentando ser cantor da noite, foi impossível pagar os móveis e acessórios comprados para o apartamento. A loja veio resgatar grande parte do que foi comprado. O aluguel estava sempre atrasado. Tentaram sublocar um dos quartos, mas não conseguiram.

Conclusão : Foram despejados.

Novamente o socorro financeiro veio pelo velho Lucio Cardim. Alugaram uma casinha simples de dois quartos no morro Santa Terezinha. Desta vez o velho Lucio Cardim, sustentava a casa, pois Lucinho ainda tentava se firmar como cantor da noite santista. Sua persistência era incansável. 

A 1ª Separação.

Lucinho e Iracy começaram a se desentender. Ele trabalhava a noite e chegava de madrugada. Iracy estava trabalhando no período diurno. Eles se viam pouco. As crianças estavam sob a guarda dos avós, Olga e Celestino, o que deixava o avô radiante em ter seu preferido por perto. 

Após muitas discussões e desencontros no termino de dois meses desta situação, a separação foi inevitável. O velho Lucio Cardim não se conformou com a separação. 

Lucio adorava sua nora. Com muita sabedoria e habilidade, conseguiu marcar um encontro com Lucinho e Iracy numa lanchonete no centro da cidade, com o intuito deles conversarem e quem sabe poderiam se entender novamente. 

Depois de tanta conversa, resolveram que deveriam se dar uma nova chance. Combinaram então que Lucinho deveria tentar a vida na cidade do Rio de Janeiro, onde poderia procurar a prima Vastí e se projetar na badalada noite Carioca.

 

TENTANDO A VIDA NO RIO DE JANEIRO  

Lucinho e Iracy saíram juntos se Santos, chegaram na rodovia de São Paulo, no bairro da Luz, onde tomaram um ônibus em direção a cidade do Rio de Janeiro. 

Chegaram no meio da madrugada e como não avisaram a prima previamente, não conseguiram achar seu endereço. Foram até uma delegacia, onde passaram o resto da madrugada em um banco, pois não era nenhuma novidade em não terem dinheiro para pagar um hotel. 

O dia já é claro, e o casal encontra o endereço de Vastí, a qual os recebeu com muito carinho.

A luta em busca de uma colocação na noite carioca durou dois meses. Todos as noites, Lucinho saia em direção aos bares noturnos que tinham musica ao vivo. Sempre conseguia mostrar seu canto, mas na maioria das vezes não ganhava nada, sem cachê, se ajuda nenhuma financeira e muitas vezes tendo dificuldade ate para voltar para casa da prima Vasti. 

Morar com a prima e não ter condições de ganhos financeiros, para ajudar nas despesas da casa, deixou o casal numa situação de constrangimentos.

Como se já não bastasse as dificuldades financeiras, havia também o complicador de

Lucinho não ter um padrinho na noite carioca, sua frustração de tentar ser cantor aumentava a cada noite. Como todo nicho de mercado tem suas peculiaridades, na música não é diferente, seria impossível decolar uma carreira de cantor sem ter alguém que o avalizasse, ou seja, um padrinho de verdade no mundo musical. 

Desta forma, voltaram para suas origens, a cidade de Santos.

  

  1955  

VOLTANDO PARA SANTOS-SP 

Frustrada a tentativa do Rio de Janeiro, voltaram para Santos. Alugaram um quarto na Rua Barão de Paranapiacaba, esquina com a Avenida Ana Costa. Iracy trabalhava como promotora de vendas de produtos de utilidades domésticas, naquele momento está na moda vender produtos de uma empresa Americana chamada Tupperware.

 

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Lucinho voltou ser bagrinho na estiva de dia e a noite tentava de firmar como cantor na cidade natal. (volta a persistência)

 O velho Lucio Cardim, ainda morando com sua filha Diorama, estava muito feliz, pois Iracy e Lucinho estavam juntos novamente, mas os atritos e desentendimentos retornaram na vida do casal.

Até que o inevitável aconteceu, a separação novamente.

 1955

 SEPARAÇÃO DEFINITIVA 

Com tantas discussões, o casal tinha objetivos de vida diferentes, Iracy ter um emprego e renda para poder criar os filhos e Lucinho só tinha olhar e foco para ser um cantor famoso.

Com a vida escassa, era impossível continuarem a viverem juntos. Lucinho pegou suas coisas e foi para a casa de sua mãe, onde já estavam seus filhos, Toninho e Sandra. 

O velho Lucio Cardim gostava muito de sua nora e como sempre tentava consertar o mundo, não a desamparou. Alugou uma pequena casa no bairro Vila Melo, na cidadezinha de São Vicente.

Passaram a morar juntos, Iracy, o velho sogro e a pequena Sandra, pois Lucinho e seu primogênito Toninho, ficaram com Olga e Celestino.

 

A vida assim seguia nesta rotina. Passados alguns meses, o velho Lucio Cardim tenta ser casamenteiro novamente forçando a aproximação de Lucinho e Iracy. Para se ver livre dessa pressão, Lucinho resolve dizer que já está se enamorando por outra pessoa e que Iracy deveria seguir o caminho dela, já que uma nova conciliação seria impossível.

Jamais saberemos se Lucinho estava blefando ou de fato já estava flertando com alguém.  

 

  1956

 UM NOVO NAMORADO 

Iracy entendeu que de fato a separação estava consumada, e se sentiu no direito de também ter alguém ao seu lado. 

A casa em que morava com seu sogro e sua filha tinha um quintal grande.

Nos fundos havia outra pequena casa, onde morava o sobrinho do dono do terreno, o Cabo da base aérea Sr. Mauro de Ramos que era sempre visto por ela ao sair e ao chegar do trabalho.

Nos fins de semana estava sempre em casa envolvido com manutenção da casa. Assim, inicia-se um flerte por ambas as partes.

O namoro naquela época era mais lento e respeitoso, o preconceito da época não facilitava muito se namorar uma mulher recém separada e ainda mais morando com o sogro e uma filha. 

 

O CIUME VAI ATÉ A DELEGACIA 

As visitas na casa de Iracy por parte do Cabo Mauro eram esporádicas e sempre de dia, na presença do velho ex-sogro e de sua filha Sandra.

Numa determinada noite, Iracy convida o Cabo para jantar em sua casa.

Após o jantar sentaram-se na sala para conversar. O velho sogro Lucio Cardim tendo um acesso de ciúmes despede-se dizendo: “Boa noite, vou dormir”. 

O ciúme pela nora faz o velho sair pela porta dos fundos, colocar um cobertor nas costas e pega um bonde, condução da época, em direção e uma boate na Rua General Câmara, onde Lucinho cantava todas as noites.

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Era cedo ainda, mas esperou seu filho chegar e disse: “Filho vamos até lá em casa. A Iracy está com seu novo namorado lá em casa e na presença de sua filha“.

Envenenado pelas palavras do pai, imediatamente pegaram um táxi e foram para São Vicente. 

Ao entrarem na sala não viram nada mais do que Iracy conversando com o Cabo Mauro. Um sentimento machista toma conta de Lucinho, mesmo sabendo não ser mais casado com Iracy, vai até a cozinha pega uma faca e investi contra o jovem Mauro, gritando: “Vamos todos para a delegacia, pois estou presenciando um adultério”;

Na delegacia, o boletim de ocorrências foi lavrado e tudo acabou em pizza. 

UMA NOVA FAMILIA 

O cabo Mauro conversa com Iracy e decidem viver juntos. Mudaram para a cidade litorânea também vizinha, Mongaguá, e lá passaram a morar com a pequena Sandra.

O avô Celestino, que tinha tido a posse das crianças assinada pelos pais anteriormente, não dava sossego ao novo casal.

A pressão era para que os irmãos ficassem juntos, mas não com a mãe Iracy e o novo marido e sim com eles, Olga e Celestino. A pressão foi tanta que Iracy achou que ambos teriam uma vida melhor com os avós. E assim Sandra foi morar com os velhos Celestino e Olga juntamente com seu irmão Toninho. 

Mauro e Iracy formaram uma nova família com quatro filhos: Denise, Maura, Solange e Maurinho e viveram juntos por 25 anos, até o falecimento do Cabo Mauro. 

Lucio e Iracy viveram juntos por cinco anos e nunca se separaram judicialmente. 

  1956

  NASCE O TRIO SERENO 

Lucio se uniu aos amigos Luiz Carlos e José Renato e formaram o Trio Sereno.

Cantavam em festas de casamento, bares, restaurantes e em qualquer lugar que desejasse ouvir boa música. Naquela época era muito comum as pessoas contratarem grupos de cantores para dedicar serenatas as pessoas queridas.

O trio Sereno fez uma tournée por toda a América do Sul, ao voltar para Santos, Lucio recebe o troféu  “A Tribuna de Santos” com o titulo de melhor conjunto vocal da época  


 

 1957 

2º CASAMENTO – (Lucio Cardim Filho x Celina de Paiva Brison)

 Em 1951, com 14 anos e seus pequeninos olhos azuis, saia da cidadezinha de Caxambu, no sul de Minas Gerais, a jovem Celina de Paiva Brison. (nascida em 17/05/1937)

Seu destino era a cidade então progressista, de Jacareí, localizada no Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, no eixo da Rodovia Presidente Dutra, importante estrada que une o Estado de São Paulo ao Estado do Rio de Janeiro. O destino era a casa dos seus tios maternos, Julião e Julieta.

Morando com os tios já a quase um ano, seu olhar que antes irradiava alegria, agora estava apagado demonstrando uma grande tristeza, tinha dificuldades de se relacionar com seus primos e tios. Jacareí era pequena demais para os projetos futuros da ambiciosa Celina. Seu pai, José Paiva Gomes, era constantemente ameaçado pela jovem, de que iria fugir da casa dos seus tios, caso ele não a tirasse de lá. 

No desespero, o pai procura o Juizado de menores da cidade de Jacareí, a fim de encontrar um melhor destino para sua terceira filha do total de quatro filhos que tinha. 

O Juiz Souza Campos os recebe, após o caso exposto. Sr. José Paiva foi informado que seria um desperdício encaminhar uma jovem tão bela e educada para viver em uma instituição para menores, onde ela certamente teria um futuro duvidoso. Uma nova audiência foi marcada. 

Naquele dia ao chegar em casa, o Juiz Luiz Gonzaga de Souza Campos comentou o caso com sua esposa Sra. Francisca, a qual ficou bastante emocionada e pediu a ele, que gostaria de conhecer a jovem de 15 anos. 

Na audiência seguinte, Dona Chiquinha (Francisca Cavalheiro Souza Campo), como era conhecida sua esposa, prontificou-se a ficar com a tutela da menor. Assim foi feito, Celina foi morar na casa da família Souza Campos, na mesma cidade de Jacareí, onde embora lavasse e passasse para sua própria manutenção, foi tratada como filha até os 19 anos de idade. Passado 4 anos, o Sr. Juiz Souza Campos, teve sua transferência nomeada para a cidade de Tiete, também no interior de São Paulo. Neste momento houve por parte da jovem Celina, bastante resistência em mudar, e também sabia que não poderia voltar a viver na casa dos tios, sua volta seria traumática. 

O Juiz então apresentou Celina a um casal amigo, Naoun Estefano e Sra. Mila.

O casal empreendedor estava administrando as vendas de um loteamento próprio, na praia de Pernambuco na cidade praiana de Guarujá, e tinha como residência oficial, uma bela casa no bairro de Embaré na também cidade litorânea de Santos. Celina Brison, agora morando em Santos com o casal, embora sendo denominada a guardiã do lar nunca foi tratada como doméstica.

Como se sabe, os afazeres domésticos são repetitivos todos os dias, e após esta rotina exaustiva, também era um habito na época ouvir musica no rádio após a hora do Brasil, única diversão possível e barata na época para a jovem Celina agora não mais adolescente. 

A televisão não era popular na época, poucos tinham condições e/ou o desejo de tê-la. O Radio era o veiculo de comunicação mais importante naquele momento. O programa apresentado por Norberto Pereira, na Radio Clube de Santos, era ouvido atentamente todas as noites pela jovem juntamente com milhares de ouvintes. 

Numa certa 5ª feira, aproximadamente 20:30 hs, entra cantando em castelhano, um jovem apresentado como Lucio Cardim. Sua voz bastante afinada e melodiosa chamou atenção de Celina. 

Norberto anunciou a contratação do jovem cantor, onde estaria se apresentando semanalmente no mesmo horário, assim, todas as quintas-feiras, mais uma incógnita fã ficava ao pé do rádio. Celina não perdia um programa. 

Em dezembro de 1957, uma jovem amiga de Celina, a bela Srta. Assunta, conhecida como neném, comemorava naquele dia seus 18 anos de idade.A  festa foi realizada na casa de Nenem na Rua Osvaldo Cocrane no bairro do Embaré também na cidade de Santos-SP. 

O sobrado, casa de dois andares muito comum na época, tinha um quintal no fundo, onde estavam as pequenas mesas esperando o anoitecer para o inicio da festa.

Já no inicio da noite, Assunta, Celina e suas amigas, desceram do quarto para sala, onde estavam os amigos dos pais da Jovem aniversariante. Os amigos dos donos da casa, eram Norberto Pereira, Sra. Aida que era uma artista de teatro e mais alguns personagem do meio artístico.     

No desenrolar da festa, alguém apresenta Celina para Norberto Pereira, onde ela prontamente menciona ouvir seu programa na radio clube de Santos semanalmente. 

Celina sobe as escadas do sobrado para ir ao banheiro, e da uma paradinha na janela com vista para o fundo do sobrado. Ao olhar pela janela, algo curioso chamou sua atenção. Havia um rapaz sentado, solitário, e em sua mesa havia um enorme copo de leite.

O jovem ao perceber que estava sendo observado fez um movimento brindando o líquido branco e ofertando um gole a jovem da janela, a qual agradeceu gentilmente, com um leve movimento da cabeça. No decorrer da festa, Celina foi apresentada ao rapaz. Muito prazer, meu nome é Lucio Cardim, mais do que depressa, ela disse; puxa sou sua fã número um, escuto você cantar todas as quintas na Radio Clube, meu nome é Celina. 

E Lucio disse; apaixonei-me pelos seus olhos, se eu não fosse casado, casaria com você agora mesmo. Neste momento ouvia-se a musica “Quedate Comigo“, tocada num disco de vinil rotação 78 rpm e interpretada pelo cantor Lucho Gatica, somente mais tarde, Celina soube que Lucio já estava separado da sua esposa, inicia-se então um flerte de ambas as partes. 

Como naquela época, era muito comum se fazer serenatas na janela das pessoas queridas, de vez enquando o pequeno edifício de 4 andares com nome de Vergára era acordado, por músicos cantando e sendo liderados pelo jovem Lucio Cardim, desta vez estava tentando chamar a atenção da garota de pequenos olhos azuis, quase uma polonesa, Celina. 

Sr. Naoun e Sra. Mila, voltaram para São Paulo, e Celina acompanhou o casal, foram  morar na Rua Padre Machado, no bairro de Vila Mariana.

 

Neste momento Lucio Cardim viajou com o Trio Sereno, mais uma vez para uma tournê na America Latina, Lucio era apaixonado pelo Paraguai, passando por Países como: Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia chegou a gravar nesta tournée, mas não trouxe nenhum disco para ser catalogado no Brasil.

As irmãs de Lucio, Diorama e Ilsa, nesta época, eram atletas da natação, disputavam campeonatos no Brasil todo representando seus clubes santistas, Saldanha da Gama e Vasco da Gama.

A Mãe Cipriana Olga sempre estava acompanhando as filhas nas viagens em competição. 

O Trio Sereno, volta ao Brasil, e começa sua rotina de cantar em bares e restaurantes da cidade de Santos e de São Paulo. 

Lucio e Celina se correspondiam por carta, ainda como amigos. Em um certo domingo, Celina pegou o Bonde na Vila Mariana, e desceu na Rua Vergueiro, onde hoje é a estação de metro com o mesmo nome.

O destino era visitar a Sra. Ermelinda, prima irmã de seu pai. Ermelinda a qual era carinhosamente chamada de tia. Após descer a grande escadaria e atravessar uma ponte de madeira, sobre córrego que foi canalizado para dar espaço a hoje famosa Av. 23 de maio chagava-se ao destino. 

O endereço da tia era, Rua Maestro Cardim, nome bem familiar para Celina. Chegando no endereço, Celina teve a grata surpresa de encontrar suas amigas de infância, Ilka e Iolanda, primas de segunda grau.

Ermelinda, vendo tamanha felicidade das jovens, convidou Celina para morar junto dela e as garotas, oferecendo a terceira cama de um pequeno quarto da sua casa. 

Celina e Lucio trocavam cartas, e Lucio Percebeu que o endereço de remetente tinha mudado. Achou muita coincidência seu sobre nome constar no verso da carta. Quase que um namoro por correspondência acontecia naquele momento. 

Alguns meses se passaram e o telefone de numero 31-5939 toca na casa da Tia Ermelinda, a telefonista informa que duas horas antes alguém solicitou uma ligação para aquele numero. As ligações naquela época eram feitas com horas de antecedência.  A surpresa é que o destino da ligação era para Celina. Do outro lado estava Lucio Cardim, informando já estar de volta no Brasil e morando na sua cidade natal, Santos. 

A vida ia seguindo, Celina e Iolanda trabalhando na famosa fábrica de chocolates Dizzioli, que também fabricava o irresistível ´´Dadinho´´, e Ilka trabalhava num salão de beleza como manicure. 

O namoro por telefone começa a criar corpo, mesmo tendo que solicitar uma ligação telefônica com 3 ou 4 horas de antecedência. Agora a frequência das ligações no domingo de Lucio para Celina aumentou. 

 1958 

 29 DE JUNHO DE 1958, O PEDIDO DE CASAMENTO 

A 16ª edição da Copa do Mundo de Futebol masculino, estava sendo realizada na Suécia, de 10 a 29 de junho daquele ano. A final seria disputada no Estádio Råsunda (Paraguai) entre Brasil e Suécia em frente a um público de 50.000.

O Brasil perde o sorteio e joga de azul, pois ambos os times tinham o uniforme nº 1 em amarelo. “Nós vamos vencer, vamos jogar com a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida” disse o dirigente da delegação brasileira Paulo Machado de CarvalhoNem o gol sueco que inaugurou o placar abalou a equipe. Didi, o príncipe etíope, certamente uma das peças mais importantes do time brasileiro, pegou a bola e foi calmamente andando com ela debaixo dos braços, lembrando a todos que o Botafogo, base daquela seleção, tinha dado uma goleada na Suécia, de forma que não ia ser a seleção brasileira que ia perder deles. 

Resultado: uma partida excepcional que, mesmo com a derrota por 5 a 2 em casa, foi aplaudida de pé pela torcida sueca, ao saudar como campeões do mundo Garrincha, Pelé, Vavá, Zito, Mazzola, Nilton Santos, Didi, Gilmar, Zagallo, entre outros. Assim o Brasil sagrava-se pela primeira vez campeão mundial de futebol.

O telefone toca mais uma vez, Celina atende e marca encontro com Lucio no centro da cidade de São Paulo;

Naquela época existia apenas uma rodoviária oficial em São Paulo, a qual ficava na região da Estação de Trens no bairro da ´´Luz“.

Praticamente saiam de lá os ônibus para todas as cidades importantes do Brasil. Exceto os ônibus para a baixada santista.

Estação de ônibus

Rodoviária de São Paulo no bairro da Luz nos anos 1960

ônibus amarelo

Na Avenida Ipiranga, no coração da cidade, era o ponto de saída e chegada dos famosos ônibus da viação “Expresso Brasileiro”, com as cores da bandeira brasileira, verde e amarelo. Ir para as cidades litorâneas, principalmente a Santos, era privilegio de poucos.

Expresso luxo taxis

Neste mesmo endereço, existiam os famosos automóveis ´´Simca Chambord´´ tinham como destino e com exclusividade as cidades de Santos e São Vicente na baixada santista no litoral do Estado de São Paulo.

Eles cobravam um pouco mais caro que a passagem de ônibus do Expresso Brasileiro, mas descia a serra com apenas 5 passageiros, deixando-os na porta de casa, justificando o nome e o glamour do “Expresso  Luxo”, o qual não poderia deixar de ser lembrado

Alguns anos depois este terminal de ônibus seria transformado num complexo de cartórios da Justiça do Trabalho. 

Lucio Cardim desembarca do ônibus verde e amarelo com uma calça branca, sapato branco e uma camisa preta estampada, roupa esta que era o uniforme do Trio Sereno. Sapatos brancos além de chique, eram muito comuns entre os artistas daquela época. 

Mal beijou a pequena de olhos azuis, e foi dizendo, não agüento mais esta distância, quero viver o resto da minha vida ao seu lado. Celina assustou-se com o pedido compulsivo de união, mas não resistiu, pediu alguns dias para que comunicasse a sua tia Ermelinda, a qual considerava como uma mãe. 

VIVENDO MARITALMENTE 

A jovem virgem se entrega aos encantos do cantor da noite, e vão morar na Av. São João, 1582 apto 505 no centro velho de São Paulo. Tipo de apto conhecido na época como quitinete. 

O local já era freqüentado por amizades feitas no mundo da música, um desses amigos era, Alberto Roy, o qual se tornou parceiro em algumas musicas e juntos fundaram a sociedade arrecadadora Sicam, a qual está aí até hoje. 

Lucio Cardim já estava ficando conhecido na noite paulistana.

Sidnei Grigoletto ganha o concurso de calouros “A Voz de Ouro ABC” e naquele momento a gravadora muda o nome artístico de Grigoletto para Roberto Vidal. 

A primeira composição de Lucio Cardim, a ser gravada, “Botequim da Vida”, na voz de Roberto Vidal, a qual foi composta para homenagear os freqüentadores da noite paulistana nos diversos bares onde Lucio Cantava.

 

BOTEQUIM DA VIDA

(Lucio Cardim e Alberto Roy)

 

Eu sei que vocês vão zombar de mim

Se eu disser qualquer um

Que esta vida é um botequim 

Certamente irão dizer e fazer pouco

Este rapaz é um louco,

Nunca vi um ébrio assim 

Porem se um de vocês amou na vida

Há de sentir ferida

Que eu sinto dentro de mim 

Então ira dizer o que eu digo

Que esta vida é um labirinto

Que esta vida é um botequim 

De que vale ganhar uma guerra e perder a moral

Se por baixo de um edifício pode haver lamaçal

Eu errei, estou pronto a pagar a frente ao criador

Ai daquele que peca e não quer se julgar pecador. 

Celina e Lucio viveram felizes naquele pequeno espaço, até que chegou a feliz notícia da gravidez. 

 

MORRE O SOGRO DE CELINA 

Naquela época o velho Lucio Cardim pai do compositor e Cantor Lucio Cardim Filho, passa uma temporada em São Paulo no apartamento da nova nora gravida ainda. 

O velho funcionário da Capitânia dos Portos da Cidade de Santos teve como atividade, ser fiscal da saúde, seu trabalho era verificar os navios que chegavam, evitando o desembarque de moléstias epidêmicas, interditando a embarcação se preciso fosse. O velho aposentado, como sempre, ajudava com as despesas da casa, com sua aposentadoria, pois moravam no mesmo apartamento, Lucio pai, Lucio filho, Celina Brison, Luiz Carlos e Renato os quais formavam o Trio Sereno juntamente com Lucio. 

A superpopulação da quitinete durou aproximadamente 01 ano, pois o trio Sereno foi desfeito em 12 de setembro de 1959, com a chegada da noticia que um derrame cerebral tirara a vida do velho e carinhoso sogro da jovem Celina. 

Lucio pai estava internado na Santa Casa de Misericórdia da cidade de Santos. O velho fiscal não chega a conhecer o terceiro neto que estava na barriga de Celina, ele morre em setembro, e o bebe nasce em 06 de novembro 1959 sem conhecer o avô paterno.

Lucio Cardim (PAI)

 1959 

NASCIMENTO DO 3º FILHO 

Lucio leva Celina para morar na cidade natal de Santos, pois desejava que seu filho que estava por chegar, também fosse santista como eram seus dois outros herdeiros, Toninho e Sandra. As 08:00 hs da manhã na Santa Casa de Santos, nasce Paulo Edison Cardim, que ganhou o carinhoso apelido de pupi. 

Caso nascesse uma menina, o nome escolhido seria Barbara Celeste, mas ao nascer menino a mãe começou a chama-lo já na maternidade de Paulo Fernando.

Celina passou uma semana em casa e Lucio não tinha ainda ido ao cartório para registrar o filho, o motivo provavelmente era a falta de tempo somado a falta de dinheiro. Uma noite chega em casa o avô postiço, o velho Celestino, segundo e atual marido da avó Cipriana.  Celestino, não teve filhos homens, teve duas filhas de seu primeiro casamento e com Cipriana Olga, não tinham filhos.

Toninho era considerado e tratado como xodó do vovô, e agora Celestino sinalizava transformar o bebe da casa em também apadrinhado, e começou chamar o filho de Celina de pururuquinha do vovô. Celina não gostou de ouvir seu filho ser chamado assim e ficou receosa em o apelido se fortificar e ficou imaginando como poderia interromper esta rotina.

Neste momento lembrou que Celestino teve duas filhas no primeiro casamento. Ambas eram comissárias de bordo, Marina, a 1ª tinha dois filhos o Edson e o Paulo e Nilza, a 2ª não tinha filhos. 

Celina teve uma ideia, e pergunta para Celestino, você gostaria que colocássemos o nome de seus netos no menino, poderia se chamar Edson Paulo, o que o senhor acha?

Prontamente respondeu, ficarei muito feliz. Celina percebeu que a forma de falar o nome do bebe, daria o som de é de São Paulo (Edson Paulo), então inverteu os nomes e ficou Paulo Edson. 

Lucio vai ao cartório registrar o pequeno pupi, e naquela época, o cartorário tinha orientação de registrar as pessoas de acordo com a sonorização do nome, no caso de Paulo Edson foi falado pelo pai com tanta ênfase e orgulho, que o escrevente registrou Paulo Edison com a letra ´´i´´. 

Agora morando em Santos, seguem na rotina, morando na casa do bairro do Marapé, Rua Manoel Elias Ruiz, 12 apto 03, Ciprana Olga Braga mãe de Lucio, seu esposo Celestino Neves da Silva, funcionário publico conferente da Cia de Navegação Costeira, mais os filhos de Lucio do seu primeiro casamento Toninho e Sandra e agora a jovem mãe Celina e seu bebe pupi. 

Lucio trabalhava na noite paulistana de 2ª a 6ª, e aos finais de semana, juntava-se aos seus na cidade de Santos. A distância complicava a convivência matrimonial, Celina, Lucio e o bebe resolveram ir morar em São Paulo, assim Lucio poderia ficar mais tempo com a família e também poderia se dedicar mais a divulgação de suas composições. 

 1960 

 DE VOLTA A SÃO PAULO 

O casal aluga temporariamente um quarto, na Rua Santa Ifigênia no antigo Hotel Albion, ficaram por duas semanas.

Celina saia todas as manhãs para procurar uma casa para alugar.

Numa dessas manhãs, com o bebê pupi no colo cumpri sua rotina, Lucio estava chegando da boate que tinha cantado a noite toda e fala a Celina:

 “ainda é cedo, saia mais tarde para procurar casa“ e a ansiosa Celina disse:

“Quisera poder ficar mais, não temos tempo o hotel custa car“

A jovem mãe e seu bebê voltam perto das 14hs quando Lucio diz não ter dormido nada pois fez uma nova composição, nasce a musica “Voce no meu Pensamento“.

 

 VOCE NO MEU PENSAMENTO (Gravado por Valdemar Roberto 1960)

 

Quisera poder ficar

Porem não me sobra tempo

Eu vou, querido, mas levo

Você no meu pensamento

 

Quisera poder ficar

Sinceramente meu bem

Não Chore, não fique triste

Seu coração vai também

 

Assim que o Sol deitar

E a noite linda acontecer

La no céu entre estrelas

Seu lindo rosto hei de ver

 

Farei então uma prece

Ao nosso singelo amor

E apertarei junto ao meu peito

A mais perfumada flor

 

Quisera poder ficar

Porem não me sobra tempo

Eu vou, querido, mas levo

Voce no meu pensamento

 

Quisera poder ficar

Sinceramente meu bem

Não chore, não fique triste

Seu coração vai também

 

Assim que o Sol deitar

E a noite linda acontecer

La do ceu entre as estrelas

Seu lindo rosto hei de ver

 

Farei então uma prece

Ao nosso singelo amor

E apertarei junto ao meu peito

A mais perfumada flor

 

Lucio Cardim / Mario Zan

Sua segunda composição de Lucio Cardim, é gravada pelo cantor Valdemar Roberto pela gravadora Continental. 

No fim do ano de 1960, Alberto Roy e Lúcio Cardim fizeram a música Teu amor é minha vida, no ritmo de Guarania, muito bem aceito pelo público da época.

                                                                                                                       

                            TEU AMOR É MINHA VIDA

                            (Lucio Cardim e Alberto Roy)

 

Não posso viver querida sem teu carinho

Não posso viver querida sem teu amor

Jamais existiu no mundo,

Amor tão puro e sincero,

E quanto mais me maltratas

Querida mais eu te quero…

 

Ai… Porque me desprezas

Se eu te quero tanto,

Aonde quer que eu esteja,

Por sina ou por castigo,

Me vem aquele desejo,

Desejo de estar contigo…

Wilson Miranda Cantor

“Teu amor é minha vida” foi gravada pelo cantor Wilson Miranda, fez muito sucesso nas rádios brasileiras.

Lucio Cardim, Alberto Roy, Vitor Simon, Adilson Godoy eram muito atuantes na noite paulistana e formavam um time de bons amigos e resolveram fundar uma sociedade arrecadadora de direitos autorais para defender os interesses dos   cantores e compositores da noite.

Nascia naquele momento a SICAM (Sociedade Independente dos Cantores e Autores Musicais).

Lucio Cardim era o associado numero 9 na estrutura de fundação da SICAM.

Lucio Cardim Sicam

 1961 

Morando em uma casa

Finalmente Celina, Lucio e o bebe Paulo Edison, saem do Hotel e vão pagar aluguel.

A casa da Rua Major Ari Gomes, 10 no bairro do Tucuruvi, bairro da região norte de São Paulo, era muito frequentada por cantores da noite paulistana como: Pedro Miguel, Denílson, Roberto Braga, Claudio de Barros e muitos outros.

Neste mesmo bairro do Tucuruvi, morava um funcionário público atuando na Policia Militar, divisão de bombeiros da Capital de São Paulo-SP, chamava-se Nelo Nunes.

Tanto Lucio Cardim como Nelo Nunes, não tinham carro próprio e

todas as noites pegavam o ônibus para o trabalho no centro da cidade de São Paulo.

Lucio ia para as casas noturnas que cantava e Nelo ia para o quartel da Policia Militar em frente a Praça da Luz, quartel este que é a sede atual da ROTA (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar).

Tornaram-se amigos, parceiros em algumas composições e compadres, pois Lucio e Celina foram padrinhos de batismo da 3ª filha de Nelo, a pequena Anahí que levava o nome de uma canção paraguaia em ritmo de Guarânia.

Lucio Cardim e Nelo Nunes fizeram algumas musicas juntos como; A Borboleta e a Flor, A Mágoa, A Saudade e o Passarinho, Encruzilhada, Francamente, História das Manhãs, Incoerência, Lago da Felicidade, Mamãezinha, Meu Destino em Tuas Mãos e Teatrinho.

Tornaram-se grandes amigos. Nesta época o cantor mineiro da cidade de Itanhandu, Claudio Barros gravou a musica ´´Meu Ciúme´´ do compositor Zé Domingos, musica esta que teve uma boa repercussão no Festival do Hotel Casa Grande na cidade de Guarujá.

Neste ano, Lucio Cardim foi convidado a ser colaborador da gravadora Copacabana Discos, através da pessoa do Sr. Emilio Vitale. Sua atividade era recrutar e selecionar cantores para a gravadora.

O bairro do Tucuruvi era muito distante do centro da cidade, onde estavam todos do meio artístico. Desta forma Lucio, Celina e o pequeno Pupi, se mudam para um pequeno apartamento na Rua do Paissandu, 34 apto 73, no coração do centro da cidade paulistana.

O micro apartamento, chamado na época de Kitnet, era muito frequentado por músicos e personalidades como: Benito de Paula (cantor), Renato Guimarães (cantor), Hélio Ribeiro, Disq Joquei da Radio Bandeirantes, o jornalista Paulo Edson Pernaséti, Noite Ilustrada (cantor), Oswaldo Cruz (cantor), Olavo Ferreira (cantor), o vereador na época Samir Achoa, Clovis Toledo Piza, assessor  da Prefeitura de São Paulo, Lenita Nunes      (cantora), a qual gravou a musica ´´Reloginho´´.

A musica ´´Teu Amor é Minha Vida´´, fazia sucesso naquele momento na voz de Wilson Miranda, também no mesmo período Elisabeth Correa, gravava ´´A Mágoa´´ e Mario Augusto gravava ´´Aconteceu´´.

Lucio estava tendo uma vida social e profissional bastante atribulada. O apartamento estava muito pequeno pela alta frequência, neste momento ja nascia o desejo de  Lucio trazer seus dois filhos do primeiro casamento (Toninho e Sandra), para se juntar a Celina e o pequenos Pupi, pois eles estavam na casa dos avós na cidade de Santos, mas naquele apartamentos seria impossível pelo espaço minúsculo.

Lucio não tinha casa fixa para cantar na noite, o desemprego era curriqueiro, e uma das casas noturnas que cantava esporadicamente chamava-se Exotic Bar. 

Na Rua Peixoto Gomide,63 travessa da Rua Augusta, no coração da Bohemia Paulistana da época, ficava o tal bar.

Frequentado por alguns nomes artísticos como: Roberto Luna, Altemar Dutra, Marta Mendonça, Nora Nei, Marion Ruiz, os sambistas Caco Velho e Germano Mathias, Trio Cristal, Carlos Augusto, Olavo Ferreira, Osvaldo Cruz, Vitor Escobar, Agostinho dos Santos e tantos outros famosos e iniciantes.

A proprietária do Exotic Bar chamava-se Sra. Nair, a qual não estava aguentando administrar sozinha a casa noturna, não só pela jornada de horário, mas também em função das altíssimas despesas.  Entao Nair conversa com seu Barman, Blaz Molina, que entra com uma parte em dinheiro para ser socio e convida Lucio Cardim para entrar com seu talento de artista para garantir frequência de publico.

Lucio tinha já clientes que o acompanhava na noite; executivos, médicos, políticos, militares e outros.

Exotic Bar passa a ter 3 socios: Nair, Blaz  Molina e Lucio Cardim.